Tudo Ainda Pode Melhorar (ou Piorar)

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O ex-presidente Filipe Almeida, da época em que a TAP M&E já era da portuguesa aérea TAP mas ainda conservava o nome de VEM, não havia conseguido solucionar problemas históricos da empresa, mas era aberto ao diálogo e cordial com os funcionários.

Koch assumiu pedindo o apoio do Sindicato à assinatura de um acordo de redução de jornada e salários e à renegociação da dívida da empresa com o governo federal. E nossa entidade não se furtou desses debates. Os trabalhadores foram informados da proposta, o Sindicato lutou e conseguiu melhorar os termos do acordo, a categoria aprovou o documento negociado e demonstrou seu compromisso e dedicação com a reestruturação que diziam necessária. 

O sacrifício tinha uma lógica: dar fôlego para que a TAP M&E conseguisse renegociar sua dívida com o governo, limpar seu nome, conquistar clientes. O resultado, no entanto, com a economia obtida com o acordo, foi que a empresa demitiu centenas de trabalhadores. Ou seja, ganhamos menos para que a TAP M&E tivesse recursos para pagar rescisões. Cortamos nossa própria carne.

Diante da necessidade de reverter o quadro financeiro da TAP para preservar os postos de trabalho, a direção do Sindicato convocou a CUT Nacional e buscou mediar junto aos diferentes órgãos do governo o diálogo que a empresa precisava para transformar sua dívida em serviços prestados à FAB. Isso aconteceu em março de 2009.

A TAP M&E conseguiu limpar seu nome, estava com seus funcionários cheios de expectativa e compromisso, e tudo levava a crer que a nova direção conseguiria, apesar do começo difícil para todos os trabalhadores, dar a volta por cima. A empresa obteve várias novas certificações, alguns novos contratos, mas desde então trabalhadores e Sindicato só ouvem lamúrias e são desrespeitados.

O assédio moral já era denunciado em abril de 2009. De lá para cá, só cresceu, como se a política interna da companhia promovesse o seu desenvolvimento. Assédio moral, racismo, homofobia, prática antissindical, é esse o ambiente que Koch conseguiu impor à TAP M&E, uma empresa de excelência em manutenção aeronáutica, reconhecida internacionalmente e membro do grupo da TAP Portugal.

Todas as promessas foram descumpridas. Centenas de trabalhadores já deixaram a empresa por não ver nenhuma possibilidade de ascensão ou mesmo futuro. O próprio Koch faz questão de dizer que “quem não está satisfeito, que vá embora”. E o mercado parece também não estar satisfeito com essa ‘postura sedutora’, pois a empresa se diz cada dia pior e, então, não deve estar conseguindo captar clientes.

Segurança no Trabalho? Para quê? Koch nem sequer visita os setores, conversa com os trabalhadores, demonstra interesse em ouvir as dificuldades de cada área para buscar alternativas. Do seu gabinete, só resolveu sair semana passada, enfrentando sua alergia a trabalhador para pedir mais uma vez o sacrifício de todos. E, pasmem, botou a culpa dos problemas da TAP M&E nos funcionários e no Sindicato. Porque o Sindicato disse à empresa, há uma ou duas semanas, que não levaria esse novo acordo de redução de direitos para a categoria. 

As relações entre entidades, pessoas, empresas, são baseadas na reciprocidade e na ánalise dos fatos. O problema da TAP M&E são seus gestores irresponsáveis, desleais com os funcionários. Os funcionários dão o melhor de si em sua grande maioria, apesar das condições cada vez mais precárias e do assédio cada vez maior na empresa. Precisam do trabalho, querem continuar na TAP M&E e não estão sozinhos. 

O Sindicato não quer quebrar a empresa. Quer talvez que a Rainha de Copas vá para bem longe. E que um novo capitão assuma esse barco, alguém com hombridade e capacidade de fazer cumprir promessas e conquistar clientes para reerguer a TAP M&E. Mas o Sindicato também não está tentando dar nenhum golpe. Só não admite expor os trabalhadores a mais uma proposta aviltante, que rasga a legislação trabalhista, feita por quem só dá rasteira.

A imagem da TAP M&E interna e externamente só se prejudica sob o comando de Koch. Assédio, racismo e homofobia não caem bem para a reputação de nenhuma empresa, não é? Funcionários em risco iminente de sofrer um acidente de trabalho, expostos a ruídos e gases tóxicos nos hangares por imprudência dos supervisores, contrariando as determinações do SESMT, setores que ficam alagados, com fios de alta tensão espalhados e máquinas sem manutenção adequada. Essa é a TAP M&E do Sr. Koch. Uma empresa que não consegue nem administrar o plano de saúde dos funcionários e os deixa dois meses sem assistência médica (que é descontada dos salários). Uma empresa que durante meses serviu uma comida péssima, que levou gente a passar mal, e só por muita pressão voltou atrás, e ainda de forma precária. Uma empresa que quer criar um sindicato patronal para reduzir direitos, o que o Sindicato não irá aceitar. E que agora inaugura uma nova fase, na qual instaura uma visão antissindical – fato inédito na TAP M&E – porque o Sindicato está sendo crítico e responsável, como deve ser. 

Deveria envergonhar o Sr. Koch (e sua equipe) ele dizer que os problemas da empresa são de responsabilidade de seus funcionários e do Sindicato. Então ele não é o gestor? Ao que sabemos, seu passado revela outros insucessos e, portanto, não estamos em boas mãos. Essa é a verdade, infelizmente, pois cada um de nós, trabalhador da TAP M&E e sindicalista gostaria que a empresa estivesse no caminho certo e se dedica para isso. Só não vê quem não quer.  

O Sindicato dos Aeroviários de Porto Alegre tem uma história de 26 anos que nasceu na VEM e na antiga Varig. Todos sabem que sempre estivemos juntos com a categoria, que a direção da entidade concilia trabalho e movimento sindical, estando sempre ao lado dos colegas, e tenta de todas as formas apoiar a reestruturação das empresas aéreas, de serviços auxiliares e da nossa empresa de manutenção VEM, hoje TAP M&E.

Fazer uma consulta dentro da empresa para pressionar os trabalhadores a assinarem um acordo que reduz direitos, sob a mira de chefes e supervisores, é ilegítimo e vergonhoso. O que o Sr. Koch quer, atacando o Sindicato, é enfraquecer a categoria e empurrar goela a baixo, na base da pressão que ele tanto sabe fazer, um acordo que não vai salvar a empresa, mas vai precarizar ainda mais as condições de trabalho. O Sindicato nunca se furtou ao diálogo, mas também precisa defender sua coerência e quer que a empresa também dialogue, seja transparente, corrija sua postura, pare de assediar seus funcionários, garanta condições dignas e seguras de trabalho. 

Truculência não leva a lugar nenhum. Quando Koch impede o Sindicato de falar está impedindo todos os funcionários de se expressarem e se manifestarem. E nós não podemos admitir que o fato de apenas 157 funcionários, num universo de 2150, sejam promovidos em um ano seja visto como um bom resultado. Nosso plano de carreira é uma falácia, a avaliação feita pela empresa não é transparente. 

É nesse clima que o Sr. Koch quer obrigar a todos o parcelamento do 13º salário e a redução de benefícios. Nós vamos aceitar calados essa submissão? Ou vamos defender nossos direitos e lutar por mudanças que permitam, de fato, uma possibilidade de reversão da situação da empresa? Todos devemos refletir sobre isso e o Sindicato está ao lado do trabalhador, não contra a empresa, não contra ninguém. Tudo Aqui Piora, é verdade. Mas Tudo Ainda Pode Melhorar. Para que isso aconteça, no entanto, é preciso mais que um acordo que gere economia para a TAP M&E. É preciso uma gestão preocupada em fazer bem feito o seu trabalho, justamente o que viemos defendendo ao longo desses anos.

 

 

Cronologia de lutas nos últimos meses

 

Maio – Sindicato firma acordo para que a TAP M&E quite horas extras devidas aos funcionários e passe a cumprir a CCT

Julho – Sindicato denuncia a TAP M&E à SRTE por assédio moral e falta de condições de trabalho e segurança 

27/07 – Em reunião com a direção da empresa, Sindicato faz um levantamento dos problemas denunciados pelos trabalhadores e não recebe nenhuma resposta objetiva

29/07 – Supervisor manda ligar motores de aeronave abastecida que estava com a cauda dentro do hangar 4

09/08 – Trabalhadores passam mal depois de comer um risoto no refeitório da empresa

Setembro – A migração do plano de saúde com a troca da operadora é mal executada e funcionários ficam sem acesso ao serviço durante dois meses

01/09 – Aprovada pela Petros a migração do plano de previdência da TAP M&E, que contou desde o início com o apoio e a fiscalização do Sindicato e foi aprovada pelos trabalhadores em 9/6

06/09 – Protesto contra a má qualidade das refeições servidas no refeitório

21/9 – Aeroviário é vítima de racismo na empresa

25/10 – Direção da TAP M&E reúne-se com o Sindicato e pede que a entidade encaminhe para votação acordo para o parcelamento do 13º salário e o não pagamento do dissídio a ser firmado com o SNEA

27/10 – Protesto contra o racismo e o assédio moral na TAP M&E

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