EDITORIAL
A campanha salarial alcançou sua fase decisiva. Como de costume, as companhias aéreas afirmam que o cenário econômico é ruim, que seus custos são elevados, ameaçam com demissões e oferecem zero % de reajuste salarial.
Na época de vacas gordas, com crescimento exponencial da aviação brasileira (a última década), conseguimos minimamente recuperar as perdas salariais do período anterior e garantir a reposição da inflação. Neste ano, em que a crise está estampada nos jornais e revistas, como uma cantilena em que não há espaço para nenhuma notícia boa sobre o Brasil, o discurso das aéreas parece sólido como rocha. Mas, afirmamos: é mais um blefe.
Dizemos isso por razões claras: a folha de pagamento é o que menos impacta as companhias; as variações cambiais devem ser administradas pelas empresas e jamais cobradas do trabalhador assalariado, que também tem contas a pagar; o valor do QAV, do leasing, assim como o dólar, deve ser administrado pelas aéreas. Ou seja, se os empresários entraram nesse negócio, devem ter a capacidade de geri-lo; e não descontar em nós seu insucesso.
Ameaçar com o desemprego é uma tática cruel e covarde, num setor que a cada ano piora as condições de trabalho, escravizando as pessoas em pleno século XXI. Vemos o desrespeito às nossas vidas todos os dias. Vemos as empresas cortando funções essenciais à segurança operacional e de voo, para lucrar um pouquinho mais. Vemos elas entrando na Bolsa de Valores e, quando não têm sucesso, também sobra para nós. Não aguentamos mais sobrecarga, dobra de jornada, nossos corpos estão quebrando e o assédio vem nos destruindo.
Assim, só nos resta uma saída nessa campanha: aeroviários e aeronautas precisam ter coragem.
As aéreas oferecerem zero% de aumento, com apenas um abono, é uma afronta à nossa dignidade. Enquanto os bolsos dos empresários da aviação estão sempre cheios, os trabalhadores ficarão à mingua no final de 2016, perdendo um quinto do seu salário com o impacto da inflação. Já perdemos 11% com a inflação acumulada de 2015. No final de 2016, esse índice pode ultrapassar 20%, e é por isso que estamos lutando por 12% nessa campanha e vamos lutar também no ano que vem. Esses 20%, num salário de R$ 4.000,00, significariam, no final de 2016, R$ 800,00 a menos por mês.
As aéreas só ouvem seus funcionários quando sentem no bolso (como na imagem abaixo). Apesar das greves serem algo muito sério para todos nós, que sentimos demais pelos passageiros prejudicados e nos colocamos em risco também, parece que só as greves fazem as empresas nos ouvirem.
Assim, não havendo acordo até a audiência de mediação no Tribunal Superior do Trabalho, nesta sexta-feira (22/1), os sindicatos de aeroviários, o Sindicato Nacional dos Aeronautas e a Fentac/CUT terão que convocar uma greve nacional.
Se baixarmos a cabeça, seremos ainda mais escravizados. Mas, se demonstrarmos coragem, seremos ouvidos e respeitados. Não estamos lutando por nada fútil: precisamos manter o sustento de nossas famílias e ter perspectiva de futuro. O medo é nosso maior inimigo, e a coragem tem seu preço, mas se estivermos todos unidos, protegendo uns aos outros, não há como eles punirem a todos e vamos vencer. Vamos dar nosso grito de liberdade, vamos defender um reajuste digno, vamos à luta unidos. Rumo à greve, se necessário, por que somos fortes, bravos, somos aeroviários/as.