O Sindicato dos Aeroviários de Porto Alegre sempre está aberto para receber denúncias de assédio moral, sejam essas feitas de forma anônima através do site da entidade ou feitas pessoalmente para a direção sindical. No final do ano passado, porém, um largo número de denúncias foi recebido, o que levou o Sindicato a procurar os responsáveis da empresa Latam para apurar o que estava acontecendo.
Após tentativas de solução de forma administrativa sem sucesso, a entidade reuniu o material das denúncias e levou para o Ministério Público do Trabalho (MPT), o que trouxe a realização de audiências. A indicação do MPT sobre o tema foi no sentido de promover ações internas na empresa com o intuito de conscientizar e consequentemente reduzir a ocorrência de assédio, o que resultou na inclusão de uma discussão sobre Assédio Moral na Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho (Sipat) e também na Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa).
Nesta quinta-feira (19), representantes da empresa e a direção do Sindicato reuniram-se para discutir outras soluções para o problema. No encontro, ficou acordado que o Sindicato visitará regularmente os setores da empresa para conversar com os trabalhadores e averiguar como está a questão do assédio, e em 30 dias uma nova reunião entre direção sindical e empresa será realizada para discutir esse período de observação.
O que é e o que pode causar o assédio moral?
Frente a essa situação, o Sindicato viu-se no papel de buscar maiores informações acerca do tema e procurou o psicólogo Leandro Inácio Walter, Mestre em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O profissional da saúde define o assédio moral como a exposição de trabalhadores a situações vexatórias, constrangedoras e humilhantes no exercício da função, de forma prolongada e repetitiva ao longo da jornada de trabalho. Segundo Leandro, “é uma atitude desumana, violenta e desprovida de ética, atinge a dignidade, a identidade e viola os direitos fundamentais do indivíduo”.
Leandro acrescenta que com as tecnologias de hoje, a exposição ao assédio moral foi ampliada, já que grupos de mensagens instantâneas como no WhatsApp, por exemplo, e a notificação frequente de e-mails no celular pessoal do trabalhador invadem o espaço de vida fora do horário da jornada de trabalho, “demandando uma onipresença e o sentimento constante de estar sendo demandado pela empresa”, afirma o psicólogo.
“Outra forma de assédio moral pode ser a pressão por produtividade”, acrescenta Leandro. Segundo ele, na medida em que as metas se tornam inatingíveis e existem condutas vexatórias para quem não cumprir o padrão que for exigido, esta demanda de produtividade caracteriza-se como assédio moral. “Nem toda pressão por produtividade será assédio, porém, já que algumas exigências estão previstas em contrato de trabalho”, complementa ele.
O assédio moral pode causar impactos na saúde física e mental dos trabalhadores. Dores no corpo, problemas gástricos, insônia, terrores noturnos e sintomas psíquicos, como crises de pânico e terror, choro sem um motivo aparente, fadiga e até mesmo ideação suicida. Essas consequências podem se estender para a vida pessoal dos trabalhadores e causar problemas familiares, rupturas conjugais, e afastamento emocional por parte do assediado, além poder levar também ao abuso de substâncias psicoativas lícitas ou ilícitas e automedicação.
Entidade pede que trabalhadores denunciem e busquem auxílio psicológico
O Sindicato dos Aeroviários de Porto Alegre reforça a importância da denúncia, porque sem ela, a entidade está vendada para os problemas que acontecem na privacidade dos setores e salas de trabalho do Salgado Filho. “Os trabalhadores precisam trazer essas questões até nós para quem tomemos as atitudes necessárias. Sempre iremos nos esforçar para resolver essas questões, mas elas precisam chegar até nós para serem resolvidas”, afirmam os diretores da entidade.
Outra recomendação do Sindicato é a busca por auxílio psicológico. “Se for do interesse do trabalhador, podemos indicar um profissional, e se for do interesse de muitos trabalhadores esse tipo de atendimento, fazemos um convênio para que toda categoria possa ser atendida com custo reduzido”, salienta a direção.
Para a entidade, é importante que os trabalhadores não normalizem esse tipo de situação, que não deixem o assédio tornar-se parte do trabalho, da rotina. “Devemos combater isso, nosso trabalho não pode nos deixar doente, já que para realizar um bom serviço precisamos também estar saudáveis”, finaliza a direção sindical.